terça-feira, 30 de novembro de 2010

História 12ºano Portugal no após guerra e as artes


1.5. Portugal no primeiro pós-guerra
1.5.1. As dificuldades económicas e a instabilidade política e social; A falência da primeira república

   Em águas agitadas viveu a Primeira República portuguesa (1910-1926). Ao seu parlamentarismo, derivado dos elevados poderes do Congresso da República, se atribui a crónica instabilidade governativa. O Parlamento interferia em todos os aspectos da vida governativa, enveredando por vezes pela via dos ataques pessoais.
   Ao laicismo da República, assente na separação da Igreja e do Estado, se deve o seu violento anticlericalismo.
v  Dificuldades económicas e instabilidade social

   Em Março de 1916, Portugal entrou na Guerra do lado dos Aliados. A sua participação no conflito mundial acentuou os desequilíbrios económicos e o descontentamento social.
   A falta de bens de consumo, os racionamentos e a especulação desesperaram os portugueses. Com a produção industrial em queda, o défice da balança comercial cresceu. A dívida pública disparou. A diminuição das receitas orçamentais e o aumento das despesas conduziram os governos ao expediente usual noutros estados: o da multiplicação da massa monetária em circulação que desvalorizou a moeda e originou uma inflação galopante.
   O processo inflacionista permaneceu para além da guerra. Do ponto de vista económico, as classes médias sentiram-se traídas pela República, vendo o seu poder de compra reduzido a metade.
   Descrente com a República ficou, também, o operariado. A agitação social adquiriu contornos violentos nas grandes cidades. Frequentes se tornaram as greves dinamizadas pelos anarco-sindicalistas, que recorriam a atentados bombistas.

v  O agravamento da instabilidade política

   A guerra trouxe consigo o agravamento da instabilidade política.
   Em 1915, o general Pimenta de Castro dissolveu o Parlamento e instalou a ditadura militar. Pela via da ditadura enveredou o major Sidónio Pais em 1917. Destituiu o presidente da República, dissolveu o Congresso e fez-se eleger presidente por eleições directas. Apoiou-se nas forças mais conservadoras da sociedade portuguesa, nomeadamente nos monárquicos. Dizia-se o fundador de uma “República Nova”. Em 1918 foi assassinado.
   Em Janeiro/Fevereiro de 1919, houve guerra civil em Lisboa e no Norte. Os monárquicos quiseram aproveitar-se da desagregação dos partidos republicanos durante o consolado sidonista e ensaiaram uma efémera “Monarquia do Norte”, proclamada no Porto.
   O regresso ao funcionamento democrático das instituições fez-se logo em Março de 1919. A divisão dos republicanos agravou-se. Os antigos políticos, agastados e incompreendidos, retiraram-se da cena política.
   À instabilidade governativa somavam-se actos de violência despropositada que marchavam o regime e nos envergonhavam além-fronteiras. Foi o caso da “Noite Sangrenta” em que ocorreu o assassinato do chefe do Governo deposto na véspera, António Granjo e de heróis do 5 de Outubro (Carlos Maia e Almirante Machado dos Santos).
v  A falência da Primeira República

   Das fraquezas da República se aproveitou a oposição para se reorganizar.
   A Igreja cerrou fileiras em torno do Centro Católico Português. Sabia que dispunha do imenso país agrário, conservador e católico.
   Os grandes proprietários e capitalistas exploraram o tema da ameaça bolchevista. Criaram a Confederação Patronal, transformada pouco depois em União dos Interesses económicos.
   As classes médias deram mostras de apoiar um governo forte que restaurasse a ordem e tranquilidade e lhes devolvesse o desafogo económico. Portugal, sem sólidas raízes democráticas e a braços com uma grande crise socioeconómica, tornou-se, por isso, presa fácil das soluções autoritárias.
   Com excepção dos políticos do Partido Democrático e dos sindicalistas, poucos se mostraram dispostos a defender a República e 1925-26. Assim se compreende a facilidade com que a Primeira República portuguesa caiu, em 28 de Maio de 1926, às mãos de um golpe militar.

1.5.2. Tendências culturais: entre o naturalismo e as vanguardas

v  Pintura
   Enquanto que na Europa as vanguardas se instalavam, Portugal permanecia acomodado aos padrões estéticos herdados da centúria anterior. O gosto oficial e o aplauso premiavam o naturalismo.
   A pintura académica comprazia-se com cenas de costumes e as minúcias realistas da vida popular.
   O novo poder republicano (nacionalista e eleitoralista) apreciava e acarinhava as velhas tendências culturais. Porém, foi na Primeira República que se propiciou os primeiros sinais de mudança nos gostos e padrões estéticos. A agitação política, em que foi fértil, fomentou o debate ideológico, o livre exame e a crítica. Desde 1911, uma série de artistas plásticos e escritores lutaram por colocar Portugal no mapa cultural da Europa.
   Foram aqueles artistas e escritores modernistas que produziram o que de mais carismático teve o modernismo português. Substituíram a iconografia rústica, melancólica e saudosa, pelo mundanismo boémio. Apoiaram-se no plano e não na sucessão de planos, fornecedora da perspectiva tradicional.
   Ao atacarem alicerces da sociedade burguesa, nomeadamente os seus gostos e valores culturais, os modernistas colheram a indignação e o sarcasmo. Viram-se afastados de certames e publicações oficiais, que os marginalizavam.
v  O primeiro modernismo (1911-1918)

   Na pintura, o primeiro modernismo ficou ligado a um conjunto de exposições realizadas com regularidade desde 1911, em Lisboa e no Porto. Nelas encontramos artistas como Manuel Bentes, Almada Negreiros, Jorge Barradas, entre outros.
   Os desenhos apresentados (caricaturas), perseguiam objectivos de sátira política, social e até anticlerical. Praticava-se a estilização formal dos motivos, esbatia-se a perspectiva, usavam-se cores claras e contrastantes.
   Este primeiro modernismo sofreu um impulso notável com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, principalmente quando regressou o núcleo mais talentoso dos pintores portugueses que estudaram em Paris (Amadeo de Souza-Cardoso, Eduardo Viana, etc).
   Destes regressos resultou a formação de dois pólos activos e inovadores: um em Lisboa, liderado por Almada Negreiros e Santa-Rita, que se juntaram a Fernando Pessoa e a Mário Sá-Carneiro, fazendo nascer a revista Orpheu; outro pólo radicou-se no Norte em torno da casa Delaunay, de Eduardo Viana e de Amadeo.
   Com a publicação de Orpheu, o modernismo português revelou a sua faceta mais inovadora, polémica e emblemática: a do futurismo. A revista contou com a colaboração de Mário Sá-Carneiro, Fernando Pessoa, Raul Leal, Luís de Montalvão, Ângelo de Lima, Almada Negreiros, Santa-Rita e José Pacheco.
   Arrebatados pelo mundo da técnica do seu tempo, os jovens de Orpheu deixaram o país escandalizado. Nas suas dissertações agressivas, repudiavam o homem contemporâneo e exaltavam o homem de acção.
   Face às críticas indignadas do escritor e académico Júlio Dantas, os futuristas explodiram de raiva. O Manifesto Anti-Dantas, atacou violentamente o escritor, associando-o a uma cultura retrógrada que urgia abater.
   Influenciado pelo futurismo declarou-se Amadeo de Souza-Cardoso em 1916. Duas exposições individuais não colheram o apoio da crítica nem do público, mas favoreceram a aproximação ao grupo de Orpheu.
   A agitação futurista culminou com a apresentação espalhafatosa do Ultimatum futurista às gerações portuguesas do século XX, no Teatro da República. Logo a seguir, saiu o número único da revista Portugal Futurista. Pouco animadoras se mostraram as possibilidades de sobrevivência do modernismo futurista.
     


v  O segundo modernismo (anos 20 e 30)

   Com as mortes prematuras de alguns artistas, o regresso dos Delaunay para França e a partida de Almada para Paris, encerrou-se o primeiro modernismo português.
   Nos anos 20 e 30, decorreu um novo ciclo no movimento modernista, que continuou a conciliar as letras com as artes plásticas. Distinguiram-se escritores como José Régio e pintores como Sarah Afonso ou Vieira da Silva.
   Mais uma vez as revistas assumiram a dinamização literária e artística, sendo de destacar a Contemporânea e a Presença.
   Mais uma vez, também, os artistas continuaram a deparar-se com a rejeição pelos organismos oficiais, pelo que exposições independentes que realizavam, os cafés e clubes que decoravam e os periódicos que ilustravam vieram a ser os seus grandes espaços de afirmação.
   Como era de esperar, a decoração modernista de A Brasileira do Chiado e logo a de Bristol Club causaram polémica. Tornaram-se no museu da arte contemporânea que Lisboa não tinha.
   Na década seguinte, António Pedro será um dos principais promotores do grupo surrealista português, nascido como oposição à “arte oficial” do Estado Novo.

v  Alguns pintores modernistas

   A pintura modernista portuguesa estrutura-se pela soma de uma série de percursos individuais.

A.   Amadeo de Souza-Cardoso
 
   Depois dos estudos liceais na cidade do Tâmega e da frequência do curso de Arquitectura da Academia de Belas-Artes de Lisboa, em 1905, ruma para Paris no ano seguinte. Em Paris troca a arquitectura pela pintura.
   Ao regressar a Portugal, quando rebenta a Primeira Guerra Mundial, Amadeo refugia-se na casa de família, com a sua esposa Lucia Pecetto, que conhecera em Paris. Aplica as tendências vanguardistas absorvidas na Cidade-Luz. Em 1916, expõe em Lisboa e no Porto, mas depara-se com a incompreensão da crítica e do público.
   No pouco tempo que o destino lhe permite viver em Portugal, Amadeo contribui para o amadurecimento do modernismo português. Priva com Eduardo Viana e o casal Delaunay. Entabula contactos com o grupo do Orpheu. Participa no Portugal Futurista, apreendido pela polícia.
B.   José de Almada Negreiros

   Almada viveu durante dez anos “encerrado” no Colégio dos Jesuítas em Campolide de onde saiu para encarnar o espírito irreverente dos modernistas.
   Em 1913 realiza a sua primeira exposição individual e trava amizade com Fernando Pessoa, com quem colaborará em Orpheu e Portugal Futurista.
   Depois de um ano em Paris, Almada encontra no regresso à Pátria a vida intelectual portuguesa estiolada, mantendo-se viva por acontecimentos pontuais. Desiludido parte para Madrid onde permanece cinco anos e onde se inicia na técnica do mural que o há-de tornar famoso. É no seu retorno da capital espanhola que contrai matrimónio com Sarah Afonso e realiza Maternidade.
   Em 1953 pinta o Retrato de Fernando Pessoa. Falece no dia 15 de Junho de 1970.

C.   Eduardo Viana

   Em 1905, Eduardo Viana abandona, num assumido gesto de rebeldia o seu curso da Academia Nacional de Belas-Artes e parte, para Paris, em busca do ensino moderno. Viana estuda, viaja mas, sobretudo, deixa-se fascinar por Cézanne.   
   Em 1915, o pintor instala-se com o casal Delaunay, em Vila do Conde. Decompõe as formas, à maneira cubista, e da luz, à maneira órfica. Fascina-se pelo brilho do sol português e pelas cores alegres da olaria minhota.
   O Rapaz das Louças, de 1919, marca o retorno de Viana à figuração volumétrica que sempre o atraíra.
   A modernidade de Viana, o que melhor o individualiza e o engrandece, reside na pujança da cor, que usa em contrastes vibrantes e luminosos.

v  Escultura

   A escultura da primeira década do século XX ficou marcada pela hegemonia do gosto naturalista. Mestre António Teixeira Lopes, o grande escultor desta corrente, continuou a retinir as preferências do público.
   Tal não impediu a manifestação de características modernistas dos anos 20, em escultores como Francisco Franco, Diogo Macedo e Canto da Maia.
   Á semelhança da pintura, a modernidade escultórica acabou condicionada nos anos 30 e 40 pelas encomendas oficiais. Aos valores heróicos e à estética monumental do Estado Novo se submeteram muitos dos escultores.

v  Arquitectura

   Os primeiros sinais de uma nova linguagem arquitectónica datam os anos 20. Cristino da Silva, Carlos Ramos, Pardal Monteiro, Cottinelli Telmo e Cassiano Branco, contam-se entre os primeiros autores de projectos arquitectónicos modernistas.
   Manifestou-se no uso do betão armado, no predomínio da linha recta sobre a curva, no despojamento decorativo das paredes, na utilização de grandes superfícies de vidros.
  Nos anos 30 e 40, as experiências modernistas consolidaram-se devido ao apoio recebido pela política de obras públicas do Estado Novo.

  





História 12ºano As vanguardas artísticas na Europa do século XIX/XX


1.4.3. As vanguardas: rupturas com os cânones das artes e da literatura
Vanguarda Cultural: movimento inovador que rejeita os cânones estabelecidos e antecipa tendências posteriores.
   Nas primeiras décadas do século XX, uma autêntica explosão de experiências inovadoras convulsiona as artes.
   Este movimento cultural, conhecido como modernismo, irradiou de Paris que era o centro artístico da Europa.
v  O fauvismo
Definição: corrente vanguardista liderada pelo pintor Henri Matisse. Defende o primado da cor na pintura e utiliza-a com total liberdade, negligenciando a precisão da representação.
   O fauvismo constituiu a primeira vaga de assalto da arte moderna propriamente dita. O escândalo fauve, provocado pelos impressionistas, rebentou em 1905, no Salon d'Automne. As telas que se encontravam na sala eram chocantes. Tinham um colorismo muito intenso, aplicado de forma aparentemente arbitrária, tornava-as, à primeira vista, obras estranhas, quase selvagens.
   Os fauvistas, encabeçados por Henri Matisse, reivindicaram o primado da cor sobre a forma e é na cor que encontram a sua forma de expressão artística.
v  Expressionismo
Definição: Designa as formas artísticas que tendem para a expressão subjectiva e emotiva.
   A vanguarda artística a que damos o nome de expressionismo nasce quase ao mesmo tempo em diversas cidades alemãs como uma tentativa de abalar o conservadorismo em que vegetava a arte oficial.
   Os artistas de Die Brucke, liderados por Ernst Ludwig Kirchner, defendiam uma arte impulsiva, fortemente individual, que representasse “directamente e sem falsificações” o impulso artístico criador.
Temáticas abordadas:
-Angústia                              -Desespero
-Morte                       -Sexo                             -Miséria social

   Para obterem maior expressividade, os pintores distorciam e acentuavam o desenho de forma caricatural. Uma forte tensão emocional apossa-se dos quadros, transmitindo ao espectador sensações de desconforto, repulsa e mesmo angústia.

v  Cubismo

Definição: Movimento artístico que rejeita a representação do objecto em função da percepção óptica e a substitui por uma visão intelectualizada de tipo geométrico.
   Em 1907, Pablo Picasso, pintor radicado em Paris, decide iniciar um óleo de grandes proporções. O resultado foi um quadro desconcertante representando cinco mulheres nuas, provavelmente uma cena de bordel.
   Fortemente influenciados pelo geometrismo de Cézanne e pela volumétrica da arte africana, Braque e Picasso lançaram-se no desenvolvimento lógico da nova concepção artística iniciadas pelas Demoiselles.
  
·         Cubismo analítico: A verdadeira novidade estava na destruição completa das leis da perspectiva que continuavam a dominar o espaço pictórico. Nos anos que se seguiram, Braque e Picasso continuam o percurso que já tinham iniciado: os motivos são cada vez mais decompostos em facetas geométricas que se interceptam e se sucedem. Ao volume fechado e circunscrito, os cubistas opõem assim um volume aberto, que ocupa todo o espaço do quadro. Pouco a pouco, as cores restringem-se a uma paleta monocromática de azuis, cinzentos e castanhos, de forma a não perturbar o rigor geométrico da representação.

·         Cubismo sintético: Foi necessário posteriormente um processo de reconstrução/recriação. Os elementos fundamentais que resultam do desmantelamento analítico do motivo foram reagrupados de uma maneira mais coerente e mais lógica. Nesta nova fase a cor regressa às telas. Juntam aos materiais da pintura objectos comuns que lhes eram completamente estranhos: papéis, cartão, tecidos, madeira, corda… Criou-se com o relevo, novos planos no quadro, enriquecia as tonalidades do colorido confinadas até então, ao uso da tinta, acentuando sobretudo a essência e a verdade das representações.

·         Em síntese

-Destruiu as leis tradicionais da perspectiva e da representação, conduzindo à arte abstracta, verdadeiro emblema da arte do século XX.
-Alargou os horizontes plásticos introduzindo neles materiais comuns.
-Proporcionou meios de expressão a outras correntes.


v  Abstraccionismo

Definição: Movimento artístico que rejeita o tema ligado à realidade concreta, à descrição do visível.

   Desde o fim do século XIX, a arte foi-se tornando progressivamente mais abstracta, uma vez que se libertou do pormenor representativo e passou a fazer maior apelo quer às emoções quer à conceptualização de formas.

·         Abstraccionismo sensível ou lírico: Segundo Kandinsky, as formas e as cores, ao reproduzirem imagens figurativas perdem muita da força expressiva que, por si mesmas, possuem, pois somos incapazes de as dissociar do significado do objecto. O mesmo acontece com as formas que despertam em cada pessoa reacções e sugestões diferentes, numa variedade e multiplicidade muito superiores às da figuração.

·         Abstraccionismo geométrico: Uma outra via do abstraccionismo tem o seu expoente no pintor holandês Piet Mondrian. Seduzido por Paris e pelo cubismo, procurou fazer da pintura um meio de expressar a verdade essencial e inalterável das coisas. Isto implica a supressão, na obra de arte, de toda a emotividade pessoal e também de tudo o que é efémero ou acessório. Pretende-se atingir uma pintura depurada, liberta de tudo o que não é essencial, circunscrita aos elementos básicos. A linha, a cor, a composição e o espaço bidimensional.

·         Em conclusão: A “necessidade interior” de Kandinsky e a “realidade pura” de Mondrian correspondem a duas teorias opostas sobre a razão de ser da arte abstracta: a teoria subjectiva e a teoria objectiva. Juntos protagonizam a corrente mais duradoura de todas quantas se iniciaram no século XX.

v  Futurismo

Definição: Movimento artístico que se caracteriza pela rejeição total da estética do passado e pela exaltação da sociedade industrial.

   Em 1909, o poeta italiano Filippo Marinetti proclamava, a partir de Milão, o nascimento de uma nova estética: o futurismo. O Manifesto de Marinetti rejeita o passado e glorifica o futuro que antevê prodigioso graças ao processo da técnica. A máquina assume o lugar central de ídolo dos futuristas e, com ela, a velocidade, a que devotam um verdadeiro culto.
   O futurismo torna-se uma moda, uma maneira de estar. Os seus meios de propaganda são múltiplos. Desligada do passado, a estética futurista centra-se na representação do mundo industrial: a cidade, a máquina, a velocidade, o ruído. Procura igualmente fazer-se eco do tempo que rege o dinamismo universal: a obra de arte não pode ser estática porque nada o é. Na Natureza tudo se transforma incessantemente.
   A busca de uma solução formal que representasse o dinamismo conduziu os futuristas à diluição das formas, à justaposição das imagens fugazes, bem como à decomposição da realidade em segmentos representando pontos de vista simultâneos. Com esta última solução, os futuristas aproximam-se dos cubistas e com eles partilham o simultaneísmo e a decomposição fragmentada.

v  Dadaísmo

Definição: Movimento de contestação artística que recusa todos os modelos plásticos e a própria ideia de arte.

   O dadaísmo nasceu em Zurique, na Suíça, pela mão de um grupo de jovens de várias nacionalidades que procuravam refúgio da guerra.
   Unidos pela mesma fome de absurdo, pela necessidade compulsiva de destruir os fundamentos da Arte, os dadaístas exprimiram-se das formas mais díspares: os assemblages de Kurt Schwitters, as composições ao acaso de Max Ernst e Hans Arp, os ready – made de Duchamp, tudo serviam para negar a arte e o seu valor.
   Ao mesmo tempo que tentavam criar a antiarte, os dadaístas provocavam grande agitação nos meios artísticos com panfletos e artigos obscenos. O dadaísmo não passou de uma manifestação mais extrema e publicitária do enorme movimento de subversão intelectual e artística das primeiras décadas do século.

v  Surrealismo

Definição: Movimento estético que fez a apologia da arte como mecanismo de projecção do inconsciente, procurando variados meios para expressar a realidade interior do artista.
 
   Tornou-se necessária uma reorientação. Esta surgiu pela mão de André Breton, ex – dadaísta que, além de poeta, pertenceu à geração à qual foram revelados os mistérios do inconsciente.
   Ao surrealismo aderiram homens de letras como Louis Aragon e Paul Éluard; artistas plásticos e realizadores de cinema.
   O movimento mergulhava, sob a influência de Freud e da psicanálise. Deste modo, o “modelo” da arte deslocava-se para o mundo da interioridade, era procurado no inconsciente do artista. Aqui reside o carácter revolucionário do surrealismo cujas obras devem realizar-se sem a intervenção do pensamento racional.
   Ao contrário de Dada, que negava a importância de tudo, o surrealismo funda-se na importância conferida no inconsciente. Não se prende com querelas formais, cada um, exprime-se à sua própria maneira, cada um encontra a sua via pessoal de acesso ao inconsciente.
   Por esta razão, a extrema diversidade ou mesmo disparidade de estilo dos surrealistas não tem equivalente em nenhuma outra corrente anterior ou contemporânea.
   Foi esta vanguarda que encerrou o período das primeiras vanguardas que revolucionaram a arte europeia.

·         Em síntese

   Até ao século XX, a pintura permaneceu fiel ao “princípio da realidade”, representando um mundo de aparência lógica e objectos reconhecíveis. As vanguardas vieram romper este universo plástico, destruindo, os seus fundamentos. Assim:
A.   Libertaram a figuração da sujeição ao modelo, distorcendo as formas e utilizando arbitrariamente as cores.
B.   Desconstruíram o espaço pictórico; os esbatimentos dos volumes e da profundidade nas telas fauvistas anunciam o regresso na pintura da bidimensionalidade.
C.   Adoptaram novos objectos temáticos de índole abstracta; pintura desliga totalmente os seus temas da realidade sensível.
D.    Alargaram o universo da pintura ao introduzirem aspectos como o movimento e o tempo (4ª dimensão).
E.   Introduziram um conjunto vasto de novos materiais artísticos, aumentando o potencial plástico e expressivo da pintura.


v  Os caminhos da literatura

   O início do século XX correspondeu, no campo das letras, a uma verdadeira revolução que pôs em causa, por vezes de forma radical, os valores e as tradições literárias.
   Nas primeiras décadas de novecentos, os esforços concentravam-se, sobretudo, na libertação da obra literária face à realidade concreta. Foi abandonada a descrição ordenada e realista da sociedade e dos acontecimentos.
   As obras voltam-se para a vida psicológica e interior das personagens mais do que para a narrativa de uma acção. Há obras que se destacam pela introdução de novas formas de expressão, ao nível da linguagem e da construção frásica. Por exemplo: os poemas caligramados de Apollinaire, que fundem a palavra e a forma; Os dadaístas, como Hugo Ball, que transformam o nonsense em poesia; entre outros.
   Estas correntes, se bem que efémeras e pouco produtivas em termos de qualidade literária, romperam convenções e abriram portas a obras de grande valor, verdadeiramente inovadoras.

sábado, 20 de novembro de 2010

Sociologia 12ºano ficha de revisões (com respostas)


1. Explique a realidade social.
   Denomina-se realidade social ao conjunto de relações que ocorrem entre os indivíduos no seu quotidiano.

2. “ O ser humano condiciona e é condicionado pelo meio”- Comente a afirmação.
   Ao longo da história o ser humano tem desenvolvido acções que conduzem à transformação do ambiente que o rodeia. Mas este é também condicionado pelo meio em que vive. O solo, o clima, a fauna, a flora, o relevo, a hidrografia, entre outros factores, determinam a estrutura e a evolução social das colectividades humanas.
   Verifica-se que o ambiente que rodeia o ser humano influencia e condiciona o seu comportamento. Mas este como ser actuante, à medida que atinge estádios superiores do conhecimento, exerce uma maior acção sobre o seu ambiente. Ao mesmo tempo, o ser humano transforma e é transformado, podendo-se concluir que entre o ser humano e o ambiente existe uma relação de interdependência.

3.Defina Sociologia
   Compreende-se por sociologia uma ciência social que estuda, segundo Durkheim, os factos sociais e, segundo Max Weber, a acção social. 

4.Explicite a génese da Sociologia   
   No século XVIII deu-se a Revolução Industrial, revolucionando a sociedade ocidental e destruindo consigo o seu anterior equilíbrio.
   É um período de mudança e de insatisfação que vai, consequentemente, originar tensões e conflitos. Torna-se necessário compreender esta nova vida social através de uma ciência social: a Sociologia. 
    Depois da I Guerra Mundial, a Sociologia fez um estudo da sociedade global, que englobará novos problemas como o capitalismo, a urbanização, as novas relações familiares motivadas por novas exigências económicas, sociais e políticas.
   Deste modo, tornou-se necessário que a Sociologia Geral se especializasse em Sociologia:
- Da Família
-Urbana
-Do Trabalho
-Da Comunicação
-etc
   Foi sobretudo com o pós-II Guerra Mundial que a Sociologia se transformou numa técnica de controlo social, no sentido de garantir coesão social.
    
5. Explique a evolução da Sociologia em Portugal
    Os sociólogos são sempre vistos como cientistas e ideólogos da mudança e, como tal, considerados indesejados pelo poder político. Assim aconteceu até ao 25 de Abril de 1974, embora grandes vultos na área das ciências sociais tivessem feito as suas investigações. É o caso de Oliveira Martins (no século XIX), e de António Sérgio (no século XX).
   Em 1985 foi criada a Associação Portuguesa de Sociologia, principal organização científico-profissional dos sociólogos portugueses, que apoia a disciplina e o estudo desta nova profissão.

6. Identifique os precursores da Sociologia
   Os primeiros sociólogos da história da Sociologia são August Comte, Émile Durkheim e Max Weber.

7. Identifique as características dos factos sociais. Explique uma ao seu critério  
   Os factos sociais possuem três características: a relatividade, exterioridade e coercitividade. A relatividade implica o espaço e o tempo em que determinados fenómenos ocorrem.
(A exterioridade envolve os factores exteriores ao indivíduo, que o fazem seguir os modelos da sociedade; A coercitividade é a sanção que se aplica ao infractor cada vez que o mesmo se afastar dos comportamentos esperados pela sociedade em que vive)

8. Defina facto social
   Um facto social são factos decorrentes da vida em sociedade, traduzindo-se por maneiras de agir, pensar e sentir “impostas” pela sociedade em que se inserem.

9. Distinga Sociologia Explicativa da Sociologia Compreensiva
   Existem dois tipos de Sociologia: a explicativa e a compreensiva. A Sociologia Explicativa, defendida por Émile Durkheim, assenta na objectividade do conhecimento científico e na atribuição de uma explicação causal dos acontecimentos. Por outro lado, a Sociologia Compreensiva, defendida por Max Weber assenta no estudo interpretativo da acção social, baseando-se na compreensão e interpretação da acção social.

10. Explique a atitude científica
   A atitude científica interliga-se ao método científico. Inerente a qualquer ciência estuda com objectividade os fenómenos sociais, afastando-se do senso comum e dos preconceitos sociais. Quem opta por esta atitude, procura de uma forma neutra conhecer as causas e as relações entre diversas variáveis, colocando sempre em questão as suas conclusões.

11. Identifique os factores de resistência à produção do conhecimento científico
   O estado de desenvolvimento da ciência e da técnica num momento histórico preciso e os interesses instalados são os principais factores de resistência à produção do conhecimento científico.

12. Identifique os obstáculos ao conhecimento científico. Explique dois ao seu critério
   Por vezes colocam-se ao conhecimento científico obstáculos, que poderão retirar o rigor pretendido pelo investigador/sociólogo.
    Estes são o senso comum, a familiaridade com o social, a ilusão da transparência do social, o naturalismo, o individualismo e o etnocentrismo. O senso comum é um dos obstáculos principais visto que perante evidências, mudar de atitude, nomeadamente no sentido de abertura a outras evidências é difícil visto que a explicação que detemos nos satisfaz plenamente.  O etnocentrismo é outro obstáculo importante porque a cultura do observador poderá ser levada em conta na análise de outras realidades sociais, isto é, tudo o que não se adequar à sua cultura poderá ser visto como inferior, inculto, etc.

-Familiaridade com o social: O conhecimento que poderemos ter dos fenómenos sociais, poderá dificultar a produção científica na medida em que já não se precisa de procurar o conhecimento das coisas, porque já o possuímos.

-Ilusão da transparência do social: Perante uma situação é importante que se procurem interpretações que vão para além daquilo que nos é dado a conhecer por outrem. Torna-se um obstáculo na medida que torna dispensável a investigação sobre aquilo que já se sabe e que se compreende.
-Naturalismo: Facto da sociedade poder ser vista como algo de natural, como o corpo humano por exemplo. No entanto, não há nada de mais “anti-natural” que o social, visto que o que é social é construído pelo ser humano.
- Individualismo: A acção social não é determinada pelas vontades individuais, mas pelas normas vigentes na sociedade. Este facto não impede que os indivíduos ajam de acordo com a sua vontade real.


13. Distinga teoria de técnicas e de estratégias de investigação.
   Uma teoria é um enunciado que explica e encaixa as situações reais. Para construir a teoria, o cientista dispõe de duas ferramentas fundamentais: as técnicas e as estratégias de investigação/método. As técnicas são o conjunto de processos operativos ou operações simples que permitem ao investigados pesquisar algo, enquanto que as estratégias de investigação é o processo de selecção de técnicas de pesquisa adequadas ao trabalho a realizar.


14. Distinga observação directa de observação indirecta. Exemplifique
   O investigador pode optar por dois tipos de observação: a directa e a indirecta.
    A observação directa é uma observação participante, em que o investigador procede directamente à recolha de informações sem a intervenção dos observados. Por exemplo, quando um investigador pretende estudar a média de portugueses que pagam os impostos, acede aos dados estatísticos e faz o estudo.
    Por outro lado, a observação indirecta tem uma observação não participante em que o investigador dirige-se aos sujeitos para recolher a informação desejada. Os dados serão obtidos indirectamente, através de entrevistas ou inquéritos por questionários. Neste caso, ao contrário da observação participante, o investigador irá construir um inquérito por questionário de forma a saber se os portugueses pagam os seus impostos, tendo depois de fazer o seu estudo.

16. Indique as fases para a obtenção do conhecimento
   Para a obtenção do conhecimento o cientista tem de realizar três grandes fases: a ruptura, a construção e a verificação.
   A primeira fase, a ruptura, deverá conter os preconceitos e as falsas evidências que a realidade social proporciona. Esta fase contém 3 etapas: a pergunta, a exploração e a problemática. A segunda fase é a construção, em que o cientista deve conceber um modelo de análise que construirá o quadro teórico de referência. A terceira e a última fase, a verificação, é quando os factos a analisar são experimentados, contendo três etapas: a observação, a análise e a conclusão.

   17. Identifique as principais estratégias de investigação. Exemplifique
   As estratégias de investigação que são mais utilizadas pelos investigadores são a intensiva, a extensiva e a investigação-acção.
   Entende-se por estratégia de investigação intensiva o estudo em profundidade de uma amostra representativa do universo (particularidade). Esta estratégia utiliza-se quando se pretende estudar o efeito do álcool nos adolescentes (estudo específico). A estratégia de investigação extensiva é aquela em que se recorre a conjuntos populacionais grandes procurando regularidades. Um exemplo desta estratégia é o estudo da pobreza em Portugal (estudo mais vasto, envolve mais pessoas). A estratégia de investigação-acção é quando o investigador faz parte do grupo a estudar. Em conjunto com os restantes membros do grupo, encontrarão respostas para o problema em estudo. Por exemplo quando se chega a um entendimento entre um trabalhador e uma empresa. 

18. Distinga Universo de Amostra
   Universo é o conjunto da população com o interesse para o estudo em causa, enquanto que uma amostra é o subconjunto populacional do universo que se pretende estudar.

19. Explique a investigação por amostragem
   A investigação por amostragem consiste em interrogar um subconjunto da totalidade da população que interessa aos objectivos de investigação. Esse subconjunto populacional, a amostra, deverá apresentar as características da totalidade da população para que, depois de tiradas as conclusões sobre a amostra, seja válido alargá-las a toda a população.

20. Distinga método aleatório de método das quotas
   Existem dois métodos que poderão ser utilizados pelo investigador na sua pesquisa ou estudo: o método aleatório e o método das quotas. O método aleatório consiste em tirar ao acaso do universo o subconjunto ou amostra que irá representar a totalidade, que é impossível de inquirir. Enquanto que o método das quotas, pretende construir uma amostra que seja um modelo do universo.

21. Identifique as etapas de investigação. Explique duas ao seu critério

1ª A pergunta: Formular a pergunta de partida respeitando a clareza, exequibilidade e a pertinência.
2ª A exploração: Terá de se ter em conta as leituras (seleccionar textos por ex) e as entrevistas exploratórias (preparar-se para as entrevistas, encontrar-se com peritos, adoptar uma atitude de escuta e abertura e descodificar os discursos).
3ª A problemática: Deverá fazer-se o balanço das leituras e das entrevistas; explicar a problemática retida.
4ª A construção: Deverão construir-se as hipóteses e o modelo e construir os conceitos.
5ª A observação: Deverá escolher-se o número de pessoas a inquirir; decidir a técnica de entrevista; testar e proceder à recolha das informações.
6ª A análise: Descrever e preparar os dados para a análise; comparar os resultados esperados com os resultados observados; Procurar o significado das diferenças.
7ª A conclusão: Recapitular o procedimento e apresentar os resultados.
   Existem 7 etapas que devem ser seguidas com rigor pelo investigador na sua investigação. A primeira é a pergunta, a segunda a exploração, a terceira a problemática (Ruptura), a quarta a construção (Construção), a quinta a observação, a sexta a análise e a sétima a conclusão (Verificação). Na primeira etapa (a pergunta) tem que se formular a pergunta de partida respeitando a clareza, a exequibilidade e a pertinência e na sétima (conclusão) deverá recapitular-se o procedimento e apresentar os resultados.


22. Indique os dois processos para obter informação sobre os fenómenos. Explique um ao seu critério
   Os dois processos utilizados para obter informação sobre os fenómenos são a documentação e a observação. Na documentação, o investigador deverá efectuar uma pesquisa documental. Após a pesquisa, cabe ao investigador estudar os elementos obtidos, fazendo assim uma análise de conteúdo.

Inquérito por questionário:
   Contrariamente à entrevista, o inquérito por questionário destina-se a ser aplicado a um elevado número de indivíduos. Todavia, se quisermos saber a opinião não de seis, mas de sessenta, é impossível realizar entrevistas a todos eles. Nesse caso torna-se mais fácil aplicar um inquérito por questionário a uma amostra representativa da população que pretendemos inquirir.
   O inquérito por questionário, é então, uma das técnicas de pesquisa utilizada em Sociologia e consiste em apresentar um conjunto predeterminado de perguntas à população, ou a uma amostra representativa dessa população que constitui o universo.
1ºdefinição do objectivo
2ºinventário dos materiais
3º investigações prévias
4º determinação dos objectivos e hipóteses de trabalho
5º técnica da amostra
6º cálculo da dimensão e tiragem da amostra
7ºredacção do projecto
8ºtestagem do projecto
9ºredacção do questionário definitivo
10ºformação dos inquiridores
11ºrealização material do inquérito
12ºcodificação dos questionários
13ºapuramento dos questionários
14ºvalidação da amostra
15º redacção do relatório do inquérito