Apesar das raízes da sua criação remontarem à Antiguidade Clássica, a novela só nasceu de facto durante a Idade Média.
As primeiras novelas, novelas de cavalaria, surgiram para satisfazer um público desejoso de aventuras (por exemplo, A Demanda do Santo Graal narra as inúmeras aventuras que os vários cavaleiros do Rei Artur enfrentaram na busca do Santo Graal) e foram seguidas pelas novelas sentimentais e bucólicas (Menina e Moça, em que duas personagens femininas, para mitigar as suas próprias mágoas amorosas, se dedicam a contar histórias de amores trágicos, envolvendo damas e cavaleiros num ambiente de bosques e pastores.
Com a Renascença, surge a novela picaresca, iniciada por El Lazarillo de Tormes, de autor desconhecido. E nos séculos XVII e XVIII, a novela continua a ser cultivada, já agora de mistura com alguns ingredientes de romance, cujo aparecimento se dá nessa altura.
Instalado o Romantismo, a novela tornou-se um dos entretenimentos mais caros à Burguesia, por ventura em razão de oferecer-lhe alimento à imaginação e preencher-lhe as largas horas de ócio. Assim se explica a voga das narrativas em folhetim, que cruzou todo o século XIX e permaneceu até bem recentemente. Mesmo os escritores mais exigentes não ficaram imunes ao fascínio exercido pela novela. E, quase sem excepção, caldearam em suas obras recursos narrativos peculiares à novela.
Em vernáculo, as coisas se passam de modo semelhante. Após as obras de Bernardim Ribeiro, Jorge de Montemor e Francisco Rodrigues Lobo, no século XVII aparecem as novelas sentimentais de Gaspar Pires Rebelo (Infortúnios Trágicos da Constante Florinda, 1625-1633; Novelas Exemplares, 1650) e de Gerardo Escobar, pseudônimo do Fr. Antônio Escobar (Doze Novelas, 1674). No século XVIII: Frei Lucas de Santa Catarina (Serão Político, 1704), Teresa Margarida da Silva e Orta (Aventuras de Diófanes, 1752), Pe. Teodoro de Almeida (O Feliz Independente da Fortuna e do Mundo, 1779). Durante o Romantismo, além de Camilo, outros escritores também cultivaram a novela, como Garrett, Herculano, Arnaldo Gama e outros. No Brasil, são de citar, nos séculos coloniais: Pe. Alexandre de Gusmão (História do Predestinado Peregrino e seu Irmão Precito, 1682), Nuno Marques Pereira (Compêndio Narrativo do Peregrino da América, 1728).
Assim, nas novelas de cavalaria, observa-se o entrelaçamento sistemático e complexo das “aventuras”: os cavaleiros, por morte ou temporário afastamento, cedem lugar a outros, que vão protagonizar as suas “aventuras”, os quais, por sua vez, são substituídos por terceiros, e assim por diante. A novela vai-se formando, portanto, da agregação de unidades dramáticas permanentemente abertas.
Sem comentários:
Enviar um comentário