1.4.3. As vanguardas: rupturas com os cânones das artes e da literatura
Vanguarda Cultural: movimento inovador que rejeita os cânones estabelecidos e antecipa tendências posteriores.
Nas primeiras décadas do século XX, uma autêntica explosão de experiências inovadoras convulsiona as artes.
Este movimento cultural, conhecido como modernismo, irradiou de Paris que era o centro artístico da Europa.
v O fauvismo
Definição: corrente vanguardista liderada pelo pintor Henri Matisse. Defende o primado da cor na pintura e utiliza-a com total liberdade, negligenciando a precisão da representação.
O fauvismo constituiu a primeira vaga de assalto da arte moderna propriamente dita. O escândalo fauve, provocado pelos impressionistas, rebentou em 1905, no Salon d'Automne. As telas que se encontravam na sala eram chocantes. Tinham um colorismo muito intenso, aplicado de forma aparentemente arbitrária, tornava-as, à primeira vista, obras estranhas, quase selvagens.
Os fauvistas, encabeçados por Henri Matisse, reivindicaram o primado da cor sobre a forma e é na cor que encontram a sua forma de expressão artística.
v Expressionismo
Definição: Designa as formas artísticas que tendem para a expressão subjectiva e emotiva.
A vanguarda artística a que damos o nome de expressionismo nasce quase ao mesmo tempo em diversas cidades alemãs como uma tentativa de abalar o conservadorismo em que vegetava a arte oficial.
Os artistas de Die Brucke, liderados por Ernst Ludwig Kirchner, defendiam uma arte impulsiva, fortemente individual, que representasse “directamente e sem falsificações” o impulso artístico criador.
Temáticas abordadas:
-Angústia -Desespero
-Morte -Sexo -Miséria social
Para obterem maior expressividade, os pintores distorciam e acentuavam o desenho de forma caricatural. Uma forte tensão emocional apossa-se dos quadros, transmitindo ao espectador sensações de desconforto, repulsa e mesmo angústia.
v Cubismo
Definição: Movimento artístico que rejeita a representação do objecto em função da percepção óptica e a substitui por uma visão intelectualizada de tipo geométrico.
Em 1907, Pablo Picasso, pintor radicado em Paris, decide iniciar um óleo de grandes proporções. O resultado foi um quadro desconcertante representando cinco mulheres nuas, provavelmente uma cena de bordel.
Fortemente influenciados pelo geometrismo de Cézanne e pela volumétrica da arte africana, Braque e Picasso lançaram-se no desenvolvimento lógico da nova concepção artística iniciadas pelas Demoiselles.
· Cubismo analítico: A verdadeira novidade estava na destruição completa das leis da perspectiva que continuavam a dominar o espaço pictórico. Nos anos que se seguiram, Braque e Picasso continuam o percurso que já tinham iniciado: os motivos são cada vez mais decompostos em facetas geométricas que se interceptam e se sucedem. Ao volume fechado e circunscrito, os cubistas opõem assim um volume aberto, que ocupa todo o espaço do quadro. Pouco a pouco, as cores restringem-se a uma paleta monocromática de azuis, cinzentos e castanhos, de forma a não perturbar o rigor geométrico da representação.
· Cubismo sintético: Foi necessário posteriormente um processo de reconstrução/recriação. Os elementos fundamentais que resultam do desmantelamento analítico do motivo foram reagrupados de uma maneira mais coerente e mais lógica. Nesta nova fase a cor regressa às telas. Juntam aos materiais da pintura objectos comuns que lhes eram completamente estranhos: papéis, cartão, tecidos, madeira, corda… Criou-se com o relevo, novos planos no quadro, enriquecia as tonalidades do colorido confinadas até então, ao uso da tinta, acentuando sobretudo a essência e a verdade das representações.
· Em síntese
-Destruiu as leis tradicionais da perspectiva e da representação, conduzindo à arte abstracta, verdadeiro emblema da arte do século XX.
-Alargou os horizontes plásticos introduzindo neles materiais comuns.
-Proporcionou meios de expressão a outras correntes.
v Abstraccionismo
Definição: Movimento artístico que rejeita o tema ligado à realidade concreta, à descrição do visível.
Desde o fim do século XIX, a arte foi-se tornando progressivamente mais abstracta, uma vez que se libertou do pormenor representativo e passou a fazer maior apelo quer às emoções quer à conceptualização de formas.
· Abstraccionismo sensível ou lírico: Segundo Kandinsky, as formas e as cores, ao reproduzirem imagens figurativas perdem muita da força expressiva que, por si mesmas, possuem, pois somos incapazes de as dissociar do significado do objecto. O mesmo acontece com as formas que despertam em cada pessoa reacções e sugestões diferentes, numa variedade e multiplicidade muito superiores às da figuração.
· Abstraccionismo geométrico: Uma outra via do abstraccionismo tem o seu expoente no pintor holandês Piet Mondrian. Seduzido por Paris e pelo cubismo, procurou fazer da pintura um meio de expressar a verdade essencial e inalterável das coisas. Isto implica a supressão, na obra de arte, de toda a emotividade pessoal e também de tudo o que é efémero ou acessório. Pretende-se atingir uma pintura depurada, liberta de tudo o que não é essencial, circunscrita aos elementos básicos. A linha, a cor, a composição e o espaço bidimensional.
· Em conclusão: A “necessidade interior” de Kandinsky e a “realidade pura” de Mondrian correspondem a duas teorias opostas sobre a razão de ser da arte abstracta: a teoria subjectiva e a teoria objectiva. Juntos protagonizam a corrente mais duradoura de todas quantas se iniciaram no século XX.
v Futurismo
Definição: Movimento artístico que se caracteriza pela rejeição total da estética do passado e pela exaltação da sociedade industrial.
Em 1909, o poeta italiano Filippo Marinetti proclamava, a partir de Milão, o nascimento de uma nova estética: o futurismo. O Manifesto de Marinetti rejeita o passado e glorifica o futuro que antevê prodigioso graças ao processo da técnica. A máquina assume o lugar central de ídolo dos futuristas e, com ela, a velocidade, a que devotam um verdadeiro culto.
O futurismo torna-se uma moda, uma maneira de estar. Os seus meios de propaganda são múltiplos. Desligada do passado, a estética futurista centra-se na representação do mundo industrial: a cidade, a máquina, a velocidade, o ruído. Procura igualmente fazer-se eco do tempo que rege o dinamismo universal: a obra de arte não pode ser estática porque nada o é. Na Natureza tudo se transforma incessantemente.
A busca de uma solução formal que representasse o dinamismo conduziu os futuristas à diluição das formas, à justaposição das imagens fugazes, bem como à decomposição da realidade em segmentos representando pontos de vista simultâneos. Com esta última solução, os futuristas aproximam-se dos cubistas e com eles partilham o simultaneísmo e a decomposição fragmentada.
v Dadaísmo
Definição: Movimento de contestação artística que recusa todos os modelos plásticos e a própria ideia de arte.
O dadaísmo nasceu em Zurique, na Suíça, pela mão de um grupo de jovens de várias nacionalidades que procuravam refúgio da guerra.
Unidos pela mesma fome de absurdo, pela necessidade compulsiva de destruir os fundamentos da Arte, os dadaístas exprimiram-se das formas mais díspares: os assemblages de Kurt Schwitters, as composições ao acaso de Max Ernst e Hans Arp, os ready – made de Duchamp, tudo serviam para negar a arte e o seu valor.
Ao mesmo tempo que tentavam criar a antiarte, os dadaístas provocavam grande agitação nos meios artísticos com panfletos e artigos obscenos. O dadaísmo não passou de uma manifestação mais extrema e publicitária do enorme movimento de subversão intelectual e artística das primeiras décadas do século.
v Surrealismo
Definição: Movimento estético que fez a apologia da arte como mecanismo de projecção do inconsciente, procurando variados meios para expressar a realidade interior do artista.
Tornou-se necessária uma reorientação. Esta surgiu pela mão de André Breton, ex – dadaísta que, além de poeta, pertenceu à geração à qual foram revelados os mistérios do inconsciente.
Ao surrealismo aderiram homens de letras como Louis Aragon e Paul Éluard; artistas plásticos e realizadores de cinema.
O movimento mergulhava, sob a influência de Freud e da psicanálise. Deste modo, o “modelo” da arte deslocava-se para o mundo da interioridade, era procurado no inconsciente do artista. Aqui reside o carácter revolucionário do surrealismo cujas obras devem realizar-se sem a intervenção do pensamento racional.
Ao contrário de Dada, que negava a importância de tudo, o surrealismo funda-se na importância conferida no inconsciente. Não se prende com querelas formais, cada um, exprime-se à sua própria maneira, cada um encontra a sua via pessoal de acesso ao inconsciente.
Por esta razão, a extrema diversidade ou mesmo disparidade de estilo dos surrealistas não tem equivalente em nenhuma outra corrente anterior ou contemporânea.
Foi esta vanguarda que encerrou o período das primeiras vanguardas que revolucionaram a arte europeia.
· Em síntese
Até ao século XX, a pintura permaneceu fiel ao “princípio da realidade”, representando um mundo de aparência lógica e objectos reconhecíveis. As vanguardas vieram romper este universo plástico, destruindo, os seus fundamentos. Assim:
A. Libertaram a figuração da sujeição ao modelo, distorcendo as formas e utilizando arbitrariamente as cores.
B. Desconstruíram o espaço pictórico; os esbatimentos dos volumes e da profundidade nas telas fauvistas anunciam o regresso na pintura da bidimensionalidade.
C. Adoptaram novos objectos temáticos de índole abstracta; pintura desliga totalmente os seus temas da realidade sensível.
D. Alargaram o universo da pintura ao introduzirem aspectos como o movimento e o tempo (4ª dimensão).
E. Introduziram um conjunto vasto de novos materiais artísticos, aumentando o potencial plástico e expressivo da pintura.
v Os caminhos da literatura
O início do século XX correspondeu, no campo das letras, a uma verdadeira revolução que pôs em causa, por vezes de forma radical, os valores e as tradições literárias.
Nas primeiras décadas de novecentos, os esforços concentravam-se, sobretudo, na libertação da obra literária face à realidade concreta. Foi abandonada a descrição ordenada e realista da sociedade e dos acontecimentos.
As obras voltam-se para a vida psicológica e interior das personagens mais do que para a narrativa de uma acção. Há obras que se destacam pela introdução de novas formas de expressão, ao nível da linguagem e da construção frásica. Por exemplo: os poemas caligramados de Apollinaire, que fundem a palavra e a forma; Os dadaístas, como Hugo Ball, que transformam o nonsense em poesia; entre outros.
Estas correntes, se bem que efémeras e pouco produtivas em termos de qualidade literária, romperam convenções e abriram portas a obras de grande valor, verdadeiramente inovadoras.
Sem comentários:
Enviar um comentário